terça-feira, 27 de julho de 2010

Professores ensinam a ver!

A COMPLICADA ARTE DE VER

Rubens Alves

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales" , de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos". ..

O texto acima foi extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Um excelente texto sobre cultura, de Affonso Romano

A IGNORÂNCIA É CARA


(Postado por Affonso Romano, em 12/07/2010, às 11:04 h)

Três noticias no jornal me falam da mesma coisa de forma diferente.

A primeira, quase como se fosse uma revelação ou escândalo, informa que um colégio de subúrbio no Rio, lá na Penha, foi o melhor classificado entre todas as escola do estado. O detalhe é que não tem nada daquilo que caracteriza os grandes estabelecimentos de ensino. Ou seja, não tem prédios modernos, não tem quadra de esporte, nem mesmo um auditório. E, no entanto, a Escola Municipal João de Deus obteve a maior nota no IDEB (Indice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Como explicar isto?

Simples. simplíssimo: a chave é a LEITURA. Diz a diretora Luciana Landrino: "Temos projeto de desenvolvimento pela leitura, desde a pré-escola até o quinto ano. Uma vez por semana, os alunos são obrigados a pegar dois livros de literatura para ler em casa". Outra invenção do colégio é a ênfase na redação: criaram o "Correio escolar". Os alunos devem escrever toda semana uma carta para um colega de classe e os textos são lidos em voz alta.

A segunda notícia veio na página de ciência de um jornal e informa que "O Brasil forma mais doutores em humanas" e que as ciências exatas e da Terra caíram para o segundo e sexto lugar entre as que mais geraram PhDs entre 1996 e 2008". A matéria começa por dizer que "o doutorando brasileiro está cada vez mais interessado em Machado de Assis e menos em relatividade". Li isto com interesse e quase espanto, logo eu que sendo leitor de Machado, cada vez me interesso mais pela relatividade.

Pois bem. A reportagem continua, mas exibe um mal entendido, quase um lamento pelo fato de as ciências humanas terem crescido mais que as exatas. Diz uma autoridade do CNPq que o país precisa de pessoas para o programa espacial, o programa antártico, a política nuclear, as questões que envolvem o clima, agricultura e pré-sal.

Concordo. Mas onde o mal entendido?

Uma coisa não elimina a outra. Está provado nas sociedades mais desenvolvidas que a formação em "humanas" e "sociais" aperfeiçoa a formação nas "exatas". Meu amigo Cláudio Moura Castro, que hoje está em Belo Horizonte e passou uns 30 anos no exterior lidando com a educação, tem dados irretorquíveis de que os engenheiros, economistas, biólogos, etc. melhoram muito quando têm uma formação humanista.

E aí entra a terceira noticia desta semana, que vem a favor de minha tese. Informa o correspondente Rodrigo Pinto, lá de Londres, que no Reino Unido ficou provado nos últimos 12 anos que a indústria cultural foi a que mais gerou empregos. O governo inglês chegou à conclusão de algo que estou repetindo há milhares de anos: de que a cultura é um setor "estratégico", que não tem nada a ver com o "supérfluo". Fizeram as contas e viram que o teatro, a música e outras áreas da cultura, além do que devem produzir, geram dinheiro e emprego.

Por isto, quando as pessoas ficam discutindo o pré-sal vendo nele o futuro do Brasil, eu costumo botar a questão de cabeça prá baixo e dizer: o verdadeiro pré-sal é a cultura.

Machado de Assis não é incompatível com a lei da relatividade.

O crescimento de doutores nas áreas de humanas e sociais deve ser visto como um progresso.

Até as crianças da escola João de Deus na Penha sabem disto.

De resto,é como já li em alguma parte: se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância.

Meus caros: a ignorância, esta sim, é caríssima.


(*) Estado de Minas/Correio Braziliense - 10.07.2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Edital Universal de Apoio a Cultura Maranhense

A Secretaria de Estado da Cultura (Secma), no uso de suas atribuições legais, tendo como objetivo democratizar o acesso aos recursos disponíveis para financiamento de projetos e ações culturais, e com base na diversidade e na pluralidade da cultura, lança o Edital Universal de Apoio à Cultura Maranhense 2010/2011. Este edital tem como finalidade garantir às entidades culturais, produtores, artistas, professores, estudantes e pesquisadores de cultura, grupos e manifestações culturais do
Estado recursos financeiros totais ou parciais a projetos e ações que explorem diferentes formas de linguagens artísticas e práticas culturais.
O objetivo do Edital Universal de Apoio à Cultura Maranhense é promover o acesso democrático a todos os atores culturais aos recursos disponibilizados pelo Estado, com os mesmos critérios de igualdade, participação e transparência no processo seletivo. A intenção é contemplar propostas que entendam a cultura em suas dimensões simbólica e material, de promoção da cidadania, de geração de produção, emprego e renda, e que contribuam para a ampliação de acesso aos processos de Formação, Produção e Circulação Cultural.
Mais Informações: (98) 32328421 ou http://www.cultura.ma.gov.br/portal/sede/


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Linguagem oral com poesias - Artigo na Revista Nova Escola

A poesia é um ótimo recurso para aumentar o universo cultural das crianças e desenvolver a oralidde mesmo que elas ainda não saibam ler


Foto: Paulo Cansini/Ilustração: Mariana Coan

"Poesia é descoberta das coisas que eu nunca vi." A definição do escritor brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954) se encaixa perfeitamente no que os textos do gênero podem representar para os pequenos que estão descobrindo as possibilidades da linguagem e da oralidade. Organizar frequentemente leitura de versos em voz alta para os alunos e ensiná-los a recitar é uma maneira de propiciar a ampliação do universo discursivo deles (leia o projeto didático). "A poesia tem características, como a musicalidade e a rima, que despertam o interesse das crianças pelas palavras, mesmo que elas ainda não saibam escrevê-las", diz Adriana Sobhie, diretora de orientação educacional da Secretaria de Educação de Tupã, a 514 quilômetros de São Paulo.


O contato estabelecido pelos alunos com o material poético pode ocorrer desde cedo: eles se relacionam com poemas ao se movimentar no ritmo de uma canção, por exemplo. Afinal, um poema acompanhado de instrumentos é música. E eles mesmos têm seus momentos poéticos, quando brincam de rimar com elementos do cotidiano, como "O pincel caiu em cima do pastel cheio de mel".

Mas isso não quer dizer que um trabalho bem feito na Educação Infantil possa dispensar muita pesquisa e estudo.

O primeiro passo é definir o que vai ser lido. As escolhas têm de despertar a curiosidade das crianças pela sonoridade, entre outras coisas. "Não faz sentido descartar textos que apresentem termos difíceis de serem pronunciados ou priorizar produções que não despertam o interesse da turma pelo contexto só porque são consideradas clássicas", diz Renata de Souza, coordenadora do Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil Maria Betty Coelho Silva (CELLIJ), da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Presidente Prudente. As educadoras da EMEIF Nossa Senhora de Fátima, em Tupã, por exemplo, escolheram Bola de Gude, do poeta brasileiro Ricardo Azevedo, que conta a opinião de um menino sobre bolas e, em especial, da que dá nome ao poema (assista ao vídeo em que Ricardo Azevedo declamando este poema).

Outro ponto importante é a dedicação aos textos antes de apresentá-los ao grupo. Leia o material várias vezes para compreender o tema e ensaie a leitura em voz alta, conferindo ritmo e entonação. Isso contribui para você ser encarado como um bom modelo de declamador.

Para desenvolver a oralidade, também vale usar as adivinhas, como "O que é, o que é, quanto mais curto for, mais rápido é?" (o tempo). Breves e simples, são de fácil memorização. Parlendas, como "amanhã é domingo, pede cachimbo...", costumam apresentar frases na ordem direta, o que facilita a repetição também. Já os trava-línguas são interessantes por serem complicados: os pequenos não resistem ao desafio de dizer, por exemplo, "O rato rasgou a roupa do rei de Roma" corretamente e, à medida que vão acertando, acelerarem o ritmo da pronúncia.



terça-feira, 6 de julho de 2010

2º Prêmio Ecofuturo de Educação para a Sustentabilidade

O Prêmio é um convite aos professores do Brasil para refletirem e compartilharem suas ideias sobre como levar a sustentabilidade para a sala de aula

”Quase tudo o que existe pode ser modificado pelo homem, mas o que realmente precisa ser modificado é a maneira de agir, de pensar, de cuidar”. É assim, sob o olhar de um garoto como Joelmir Tailon de Araújo Ferraz, 15, de Formosa do Rio Preto, na Bahia, que fica evidente a importância de aprender a tecer uma rede de cuidados para criar a grande rede da sustentabilidade. É com esta percepção que, no ano internacional da biodiversidade, o Instituto Ecofuturo lança o 2º Prêmio Ecofuturo de Educação para a Sustentabilidade, com a chancela do Ministério do Meio Ambiente, e convida professores de todo o País a compartilharem suas idéias sobre como trabalhar o tema do cuidado pela vida de forma multidisciplinar e transversal em sala de aula.

O Prêmio abre um canal de comunicação com os educadores para que escrevam projetos ou planos de aula que demonstrem como ensinar, na prática, algo que deveria fazer parte da base de toda experimentação e todo aprendizado, que envolve, essencialmente, o cuidado com o outro, com si próprio e com todas as formas de vida no planeta. O projeto está aberto a professores das redes pública e privada de todo o Brasil, da educação infantil, ensino fundamental e médio, e EJA, bem como de outras instituições onde se realizem atividades educacionais. As inscrições estão abertas de 25 de junho a 25 de agosto e devem ser realizadas pelo hotsite: http://www.premioecofuturo.com.br/2010/index.php/home.html

O diferencial desta edição é a proposta aos professores de acessar também uma bibliografia literária, seja para sua reflexão ou para o trabalho em sala de aula, por se tratar de um recurso relevante para ativar outros canais de percepção e apropriação de sentidos. Por isso, O Ecofuturo preparou e disponibilizou no hotsite do Prêmio um material de referência, composto por textos do escritor e jornalista Daniel Piza e pelo poeta Bartolomeu Campo de Queirós, visando incrementar a base de pesquisa e auxiliar os educadores na missão de pensar projetos que ajudem a propiciar aos seus alunos aprendizados sobre o tema central do Prêmio: Saber cuidar.

A premiação contemplará os dez melhores autores com a publicação de seus projetos em livro, R$ 3 mil em dinheiro e uma coleção de títulos de literatura e ecologia. As escolas onde estes educadores lecionam ganharão uma coleção de livros de literatura e ecologia e um computador com impressora.

“A partir da nossa experiência de dez anos na realização de concursos de redação em nível nacional, para alunos e professores de toda a grade curricular, percebemos a importância de criar um canal de comunicação e troca com os educadores, visando conhecer, reconhecer e compartilhar ideias sobre projetos de educação para a sustentabilidade. Assim, acreditamos que podemos contribuir, à distância, com a ampliação de repertórios de qualidade para que o educador se sinta mais preparado para tratar o tema com seus alunos em sala de aula, de modo que estes aprendam como podemos ser mais cuidadores e cuidadosos com a vida, argumentando com gosto e competência”, conta Christine Fontelles, diretora de Educação e Cultura do Instituto Ecofuturo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sala do Professor - Editora Mundo Mirim

Olá Queridos Professores do Maranhão!

Hoje visitei a sala do professor, no site da Editora Mundo Mirim. A-do-rei!!!! Vocês podem aproveitar as dicas e realizar aulas de leitura bem divertidas. Recomendo, em especial, a ficha de leitura do livro "Quem quer trocar?", de Maurício Veneza. Este livro conta a história de uma joaninha que cansou de sua tradicional roupa vermelha de bolinhas pretas e decidiu trocar de roupa. Ai, ai, ai! Ela acabou inventando moda!

Quem fez a ficha de leitura foi a escritora Sandra Pina e ela caprichou! Aproveitem!!!! Cliquem no link a seguir...

Beijocas da professora que mora na capital do nosso país
Tati

Os momentos de partilhar experiências

Quando passamos por uma boa experiência emocional ou intelectual, temos vontade de partilhar com as outras pessoas, não é? Assim acontece com a experiência estética: quando assistimos a um bom filme, ouvimos uma boa música ou lemos um bom livro, queremos contar para os amigos e dividir com eles nossas impressões. As crianças gostam de falar sobre os desafios vencidos e sobre os livros lidos. Portanto, é importante reservar um tempo para a troca de experiências sobre a leitura. Nesses momentos, as crianças devem falar livremente, sem cobranças ou ameaças. Garantir a segurança emocional tanto no momento da leitura como no do comentário é importante para que a criança não sinta que está correndo riscos de ser reprimida, advertida, humilhada ou ridicularizada quando participa de conversas e debates na classe. Os comentários das crianças podem despertar em outros colegas o desejo de ler aquele livro. Algumas vezes, é preciso fazer uma lista de espera na circulação dos livros.

Trecho do livro LER = MUITO PRAZER - Orientações para o trabalho de formação de leitores e com a literatura infanto-juvenil, da escritora e doutora Lucília Garcêz. Editora Conhecimento: Brasília, 2008. Páginas 20-21.